O resultado acumulado do ano desacelerou, passando de 2,3% até abril para 1,8% com os dados de maio.
O volume de vendas no varejo restrito subiu apenas 0,1% entre os meses de abril e maio na comparação dos dados dessazonalizados, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE. A queda de 3,0% no período do segmento de “Móveis e eletrodomésticos” foi a grande responsável por esse resultado amargo, dado que noutros segmentos, tão relevantes quanto, as vendas caminharam para cima. Os segmentos de “Super e hipermercados”, “Combustíveis e lubrificantes” e “Tecidos, vestuário e calçados” subiram 2,0%, 2,1% e 3,5%, respectivamente.
O resultado veio bem abaixo daquilo que era esperado pelo mercado, já que a mediana das projeções apontava um avanço de 0,9% nas vendas no período. Na comparação interanual o volume de vendas caiu 0,2% e o resultado acumulado no ano passou de 2,3% até abril para 1,8% em maio. Já na análise de longo prazo, medida pela variação acumulada em 12 meses, o volume de vendas no varejo restrito vinha numa tendência de desaceleração, apontava crescimento de 0,8% até o mês de abril e agora aponta queda de 0,4%.
Esse movimento na curva de longo prazo já era esperado pelos economistas da Boa Vista, dado que entre os meses de abril e maio o indicador antecedente de Movimento do Comércio havia passado de +1,3% para -0,2%. No mês, por outro lado, a expectativa era de maior elevação, mas, parece que a concorrência com o setor de serviços, que cresceu 0,9% no período, foi mais acirrada. Um dos fatores que apontavam para uma alta no mês foi a liberação do saque ao FGTS, mas ela sozinha foi insuficiente para suportar os dois setores. De acordo com o Ministério da Economia, só em maio quase 25 milhões de trabalhadores foram beneficiados, injetando na economia cerca de R$ 18 bilhões. Outro fator foi a melhora no mercado de trabalho. Diante de tanta incerteza, ele se manteve resiliente no 1º trimestre e desde então passou a mostrar números melhores. A taxa de desemprego, que estava na marca de 11,1% em março, caiu para 10,5% em abril e para 9,8% maio.
“O efeito do FGTS pode ter sido menor, mas certamente ajudou nas vendas, tanto que os segmentos de itens básicos, como alimentos e combustíveis, mesmo caros, subiram. Já no segmento de móveis e eletrônicos, como se trata de itens de maior valor agregado, naturalmente eles ficaram de lado na preferência dos consumidores devido aos preços mais altos dos bens e do crédito. No 2º semestre é o efeito da PEC dos Combustíveis que deverá aparecer, com os preços dos combustíveis mais baixos, o consumidor poderá destinar um pouco mais da renda a outros segmentos que não ficaram mais baratos, como o de alimentos”, diz o economista da Boa Vista, Flávio Calife.
Por fim, a expectativa é de que o varejo encerre o ano de forma positiva. É também importante ressaltar que esse impulso gerado pelas medidas do governo hoje terá um custo lá na frente. Esse custo pode ser entendido como uma projeção de crescimento menor para o setor em 2023.