Objetivo é formar ‘jovens agentes comunitárias de saúde’ visando o combate a endemias. Iniciativa, que tem o apoio do British Council, está aberta a voluntários.
Desenvolvido com apoio do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), o projeto de cultura e extensão “Semeando Ciência: Meninas em Campo” pretende ampliar o conhecimento sobre insetos de interesse médico entre alunas (e também alunos) nas escolas públicas do ensino fundamental e médio de diversas regiões do país. Em sua segunda edição, focada neste tema, a iniciativa tem apoio do British Council, que concedeu R$ 15 mil para o projeto por meio do edital “2ª Chamada do Programa Garotas STEM: Formando futuras cientistas”.
O programa é coordenado pela pesquisadora Flávia Virginio, do Instituto Butantan, egressa do Programa de Pós-graduação “Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro” do ICB-USP. Tem a participação do CientificaMente, projeto de extensão coordenado pela professora Maristela Martins de Camargo, do Laboratório de Imunorregulação Molecular do ICB-USP, que estimula e ensina docentes e discentes a realizarem divulgação científica.
Ciência cidadã — As atividades do projeto são voltadas à ciência cidadã, ramo da ciência que conta com a participação de toda a sociedade, seja na coleta de informações ou na disseminação dos resultados. “A investigação científica não é uma atividade exclusivamente de cientistas; é possível fazer ciência mesmo sem treinamento acadêmico. Essa abordagem visa despertar o interesse pela ciência nos estudantes para incentivar a busca por uma carreira na área científica”, afirma Camargo. “O projeto tem um papel importante para a desmistificação da ciência e a disseminação do conhecimento produzido dentro das universidades, especialmente para as comunidades que precisam de ações concretas”, complementa Virginio.
Conteúdo do projeto — Mais especificamente, os conhecimentos apresentados no projeto têm o intuito de auxiliar no combate a doenças infecciosas que são endêmicas em diversas regiões do país, como a dengue e a malária. Para isso, haverá oficinas para a captura, identificação e mapeamento de mosquitos das regiões cobertas pelo projeto. Os estudantes também serão treinados quanto ao uso de inteligência artificial e sistemas de georeferenciamento.
“No final, alunas e alunos atuarão de certo modo como agentes comunitários de saúde pública, fazendo levantamentos sobre quais são os mosquitos presentes na região e quais são de interesse médico”, afirma Camargo. “A expectativa é de que acabem virando uma figura de autoridade dentro da comunidade com relação aos mosquitos transmissores dessas doenças, podendo auxiliar os agentes epidemiológicos e a comunidade científica alertando quando a frequência dos mosquitos aumentar. Também poderão ajudar a orientar a população de suas comunidades sobre as formas de prevenção dessas doenças”, acrescenta.
Equidade entre gêneros — Apesar de pensadas para meninas, Virginio conta que as atividades também são destinadas a meninos, para que criem referências de mulheres cientistas e conheçam o trabalho desenvolvido por elas. Haverá, por exemplo, material lúdico e educativo sobre a importância das mulheres na ciência. Alunas e alunos terão referências sobre grandes cientistas que marcaram a História e renomadas profissionais contemporâneas.
“O projeto terá um papel desmistificador da profissão de cientista, que ainda é muito estigmatizada como algo feito majoritariamente por homens brancos, entre 30 aos 60 anos. Com o projeto, organizado exclusivamente por mulheres, pretendemos mostrar para todos que a ciência é feita também por mulheres diversas e que esse espaço é atrativo e receptivo para elas”, aponta Virginio.
Nesse contexto, a iniciativa também pretende ajudar a combater a desigualdade de gênero na ciência. “Apesar da presença de mulheres nas universidades em cursos de Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, ser maior que a dos homens, conforme o nível de especialização e o tempo de carreira aumentam, nota-se que são poucas as mulheres que persistem na carreira. Isso por conta de vários obstáculos, como machismo, assédio, maternidade e disparidade salarial. Para corrigir esse problema, precisamos que mais mulheres estejam no meio científico e ocupem posições de liderança”, destaca a coordenadora do projeto.
Trabalho em rede — O projeto “Semeando Ciência: Meninas em Campo” é realizado no âmbito da Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Trata-se de uma iniciativa que oferece apoio intelectual e emocional a mulheres no ramo científico, além de discutir mudanças para garantir um ambiente acadêmico acolhedor às cientistas e incentivar meninas a buscarem a carreira científica.
A iniciativa teve início há dois anos, na Escola Municipal Miguel Arraes, em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, na Bahia. Em 2022, o projeto foi expandido para outros estados e ganhou novas conexões com outros projetos pelo Brasil, como o CientificaMente e o USP Mulheres. Com o apoio dessas instituições, do British Council e da Fundação Carlos Chagas, será possível desenvolver oficinas em sete escolas divididas em quatro estados, de três regiões do país, e o Distrito Federal.
Como contribuir — Pessoas com conhecimento nos temas de ciência cidadã; entomologia médica; saúde pública; inteligência artificial e bioinformática; biogeografia e georreferenciamento; ou curadoria de coleção científica podem se voluntariar para participar das oficinas do “Semeando Ciência: Meninas em Campo”. Para isso, é preciso entrar em contato com a Flávia Virginio (flavia.virginio@butantan.gov.br) ou Maristela Camargo (mmcamar@usp.br). Também é possível acompanhar o projeto pelos perfis do Instagram de parceiros do projeto: Rede Kunhã Asé, Entomologuia, Conhecendo Os Mosquitos, Inseto pra quê?, Entomo Consciência, USPMulheres, CientificaMente USP e Women In Global Health Brazil.