Por César Silva*
Para o ensino brasileiro, maio representa o momento da retomada dos grandes fóruns de discussão do setor, a começar pelo XIV CBESP, que é o primeiro Congresso Brasileiro de Educação Superior Presencial após a crise sanitária. Realizado na primeira semana do mês, em Florianópolis, Santa Catarina, reuniu as principais associações representativas para debater o tema “Criatividade e inovação na construção da educação superior pós-pandemia”.
Ainda em maio, na cidade de São Paulo, acontece a Bett Brasil, a maior feira de educação básica do país, do infantil ao ensino médio, no Transamerica Expo Center, com espaço para debates e palestras. Neste caso, os temas versam sobre inclusão, diversidade, competências socioemocionais e perspectivas.
Em ambos os casos não vemos pautas centrais como Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Mediação Coletiva e até mesmo um modelo de educação contínua, conhecido como o conceito “long life learning”, traduzido do inglês para aprendizado ao longo da vida. Isso escancara que a nossa vivência está muito distante da inovação e da tecnologia aplicada, seja lá em qual nível educacional for.
Enquanto avança a educação modular, aplicada em pílulas de saberes e voltadas ao mundo real e ao mercado de trabalho, caminhamos a passos lentos na reforma do ensino médio, com trajetórias e trilhas formativas coletivas a serem escolhidas pelos alunos.
No ensino superior não é muito diferente. Não bastasse a segregação entre modelo presencial e EaD, agora se convencionou criar um monstrinho denominado híbrido. Aqui é preciso esclarecer que modalidade de oferta não tem vínculo com o tipo de educação. Alunos aprendem em encontros presenciais, em atividades virtuais e mediadas por tecnologia.
Mesmo assim, existe a demanda por separar tudo em caixas como se não houvesse conexão entre todas. Tal realidade é a que move no Brasil a educação, que precisa de rótulos e designações para ser gerida e controlada, voltada ao modelo tradicional de pensar.
Enquanto ao redor do mundo, professores dedicados e comprometidos já são premiados com NFTs, sigla em inglês para token não fungível – e que na prática é um ativo digital criptográfico que representa algo único, como uma ação de empresa de capital aberto –, não chegamos nem perto de discutir um modelo de remuneração variável de docentes destacados. Muito menos com recursos tecnológicos e formas modernas de investimentos.
Claro que assistir as palestras destes congressos, presencialmente, fortalece a segurança da retomada. Mas voltamos ao lugar comum anterior a março de 2020, quando a pandemia se alastrou por aqui. Reconheço o importante impacto emocional de estarmos reunidos, mas decepciona ver que nada avançou na política pública, apesar de todas as lições deixadas pelo isolamento.
*César Silva é especialista em gestão educacional, atual presidente da Fundação FAT