Cerca de 500 pessoas entre profissionais, usuários e familiares participaram do evento
O Parque Antonio Pezzolo (Chácara Pignatari), na Vila Metalúrgica, recebeu nesta terça-feira (17) diversas atrações em alusão ao Mês da Luta Antimanicomial. Uma das atividades foi o Mental Fashion Day, encontro anual que reúne usuários e profissionais dos Caps (Centro de Atenção Psicossocial), que desfilam peças confeccionadas e customizadas dentro das oficinas que acontecem na rede de saúde mental do município.
O Mental Fashion Day, que chegou à sua 15ª edição, não acontecia há dois anos em decorrência da pandemia. Nem o frio espantou o público recorde de cerca de 500 pessoas. A quadra de basquete do parque foi decorada com faixas produzidas pelos usuários dos serviços. As faixas continham frases que simbolizam a luta antimanicomial, como “nenhum passo atrás, manicômio nunca mais”.
“Santo André é referência em políticas públicas voltadas para a Saúde Mental, oficinas terapêuticas, acolhimento e humanização. Chegar à 15ª edição do desfile mostra o poder que a inclusão e o cuidado têm na vida da nossa gente”, destaca o prefeito Paulo Serra.
O clima durante o desfile foi de alegria e retomada da normalidade pós-pandemia. Muitos dos modelos, que durante as oficinas demonstravam timidez, se soltaram, faziam passinhos de dança e mandavam beijos para a plateia.
A aposentada Maria de Fátima de Ferreira Maia, de 61 anos, acompanhou o primeiro desfile da filha, Beatriz Maia, de 17 anos, que está sendo acompanhada no Caps há três meses. “Eu demorei para descobrir que existia o Caps e depois que ela começou a passar por lá ela melhorou muito. O tratamento está sendo ótimo. Eu tenho convênio médico, mas a parte psiquiátrica para menor de 18 anos quase não existe. Se não fosse o Caps, não sei onde ela seria acolhida. Fiquei muito emocionada e feliz em ver minha filha solta e feliz desfilando”, diz Maria de Fátima, olhando para a filha com um sorriso orgulhoso.
“Eu fiquei muito nervosa e antes do desfile eu chorei. Ver a energia boa de todo mundo fez com que eu me sentisse acolhida. Não vejo a hora de desfilar novamente. Estou fazendo muitas amizades no Caps e agora estou me sentindo muito melhor”, pontua a adolescente Beatriz Maia.
O arte-educador do Caps Infantojuvenil, Henrique Marete Froes, de 27 anos, falou sobre o sentimento que as crianças e adolescentes têm de não ter voz, e como o evento foi importante para que eles pudessem externar isso. “Nesse ano as ideias deles foram potencializadas, então é o cosplay, a máscara, falar do que dói, do que o outro acha feio e do que eles estão sentindo. Eles pensaram em colocar letras nas roupas pois eles sentem que não são escutados e tudo isso merece a visibilidade”, comenta.
Além de promover poder terapêutico para os usuários da rede, os profissionais envolvidos em toda organização também se emocionam e aprendem muito com o trabalho. Ao longo do dia os usuários tiveram um campeonato de futebol entre os profissionais de serviços de saúde mental. Às 13h30 houve um show de talentos, com poesias, atrações musicais e apresentação de capoeira.
“É do encontro que os vínculos se formam e conseguimos ter a sensibilidade de olhar um para o outro. Todos nós somos sujeitos psíquicos precários e todos temos um ponto em que faz o edifício desabar. A importância dessa iniciativa é dizer que todos nós, que estamos aqui neste parque, familiares e amigos, vamos em algum momento da vida, enfrentar algum sofrimento psíquico, porque sofrer é algo inerente humano”, disse a coordenadora de Saúde Mental, Marines Santos de Oliveira.
Histórico – O Mental Fashion Day contou com a participação de 55 pessoas de todas as idades, desfilando com os trajes produzidos pelos usuários nas oficinas de artesanato. Nas últimas edições, o evento ocorreu na concha acústica da Praça do Carmo, mas nesse ano, devido às inúmeras atrações, o desfile foi transferido para a Chácara Pignatari e se tornou uma grande atração cultural.
“Estamos muito felizes dessa retomada em um momento tão difícil que a gente está passando, de defesa das políticas públicas para ter um SUS que nós acreditamos, em defesa da vida. Na segunda tivemos um evento de abertura que envolveu toda a rede de saúde e isso só demonstra o quanto a rede de atenção psicossocial é forte e passa por todas as áreas. Vamos continuar lutando e avançando cada dia mais”, disse o secretário adjunto de Saúde, Victor Chiavegato.