Edite Marques, de 58 anos, já passou por duas experiências malsucedidas, mas vê no programa que apoia pequenos empreendedores a oportunidade de realizar seu sonho
Na cozinha extremamente organizada, sobre uma grande mesa com bancos compridos de madeira maciça que indicam que ali acontecem reuniões para cozinhar e comer, Edite prepara os salgados que vai levar para a feira da Incubadora Pública de Economia Solidária de Santo André, no dia seguinte. Ela é uma das incubadas do programa criado para dar apoio e capacitar pessoas que estão dando os primeiros passos como empreendedor para que depois possam dar voos mais altos sozinhos.
Esse é o plano de Edite Aparecida Marques que, aos 58 anos, não se deu por vencida mesmo após duas experiências malsucedidas no comércio, uma separação, e uma pandemia que tornou tudo ainda mais difícil. “Olha, a gente luta, luta, mas é tanto desafio, que é difícil não desanimar quando as coisas começam a dar errado. Mas a incubadora me trouxe uma força nova”, confessa.
Hoje Edite vende coxinhas, assados de pernil e de salsicha e tortas de frango em pedaços, na feira da incubadora que acontece às terças e quintas, na Praça do Carmo, atrás da Catedral Nossa Senhora do Carmo, no Centro da cidade, uma das regiões de comércio mais importantes de Santo André. Além disso, ela faz salgados para festas e tortas sob encomenda e pretende ingressar no mundo dos bolos. Sua empresa chama-se Da Casinha e tem página no Instagram (@da_casinha_culinariacaseira).
“Eu fico satisfeita porque a participação nas feiras garante uma renda constante, mas o foco mesmo é aprender. Na incubadora a gente aprende a calcular custo, preço, fazer as contas diariamente, a manter a qualidade, a cuidar da higiene, da organização e da exposição para manter o mais atrativo possível para o cliente”, conta.
Todo esse conhecimento e mais a oportunidade de mostrar seu produto para um número maior de pessoas e aumentar a clientela são benefícios que contam muito para Edite. “Meu foco é vender bem para ter o máximo de clientes, para ficar bem conhecida e futuramente abrir meu próprio estabelecimento”, diz.
Esse é o sonho que ela acalenta desde que saiu, em 2013, da empresa de serviços de mecânica que possuía junto com o marido, época em que ainda estava casada. Ela conta que a partir daí começou a trabalhar timidamente com alimentos, até que, em 2018, mesmo ano em que se separou, ela se matriculou no curso de panificação da Escola de Ouro Andreense.
A Escola de Ouro Andreense é uma iniciativa do Fundo Social de Solidariedade, que visa a qualificação profissional para o mercado de trabalho. Todos os cursos oferecidos são gratuitos em áreas como artesanato, beleza, construção civil, culinária, costura, informática, gestão de negócios, entre outros.
Com as novas informações adquiridas, ela tomou coragem e montou uma lanchonete em uma academia, em 2019. No entanto, seis meses depois veio a pandemia e a academia teve de permanecer fechada por conta do isolamento, e embora tenha reaberto, acabou fechando as portas definitivamente poucos meses depois. “Para piorar não havia festas, as pessoas cozinhavam em suas próprias casas ou compravam por aplicativo. Foi nesse período que as poucas economias que eu tinha foram embora”, lembra.
Até que, em 2021, sua irmã soube da existência da Incubadora de Economia Solidária de Santo André e ambas decidiram concorrer a uma vaga do programa. As duas passaram pelo processo para ingressar no programa, que ainda está com vagas abertas não só na área de alimentação, mas também de artesanato.
Como ingressar
Quem tiver interesse em ingressar na incubadora deve entrar em contato pelo telefone 4459-7273, de segunda a sexta, das 9h às 15h, e agendar uma entrevista. Os empreendedores do segmento de alimentação precisam levar uma prova de seus produtos, que precisam ser artesanais. Não são aceitos alimentos feitos totalmente com produtos industrializados.
Para concorrer a uma vaga é necessário que o empreendedor resida em Santo André e que os produtos e alimentos sejam feitos de forma artesanal, pelo próprio empreendedor.
Quem ingressa na incubadora passa por formação teórica e pela experiência prática. Logo de início recebe informações sobre os princípios da economia solidária, sobre o espírito empreendedor, o trabalho de forma coletiva e também é direcionado para participar de cursos de capacitação do Sebrae, sobre temas como precificação, estratégia de vendas, atendimento ao cliente, entre outros.
Paralelamente passa a expor seus produtos na feira da Incubadora de Economia Solidária, que acontece às terças e às quintas na Praça do Carmo. Os empreendedores que trabalham com artesanato também expõem seus produtos na loja da incubadora no Atrium Shopping, na Vila Homero Thon, além da feira no Centro.
Segundo a diretora do Departamento de Apoio ao Trabalhador, Maria de Lurdes Lopes, a ideia do programa é oferecer aos empreendedores a oportunidade de adquirir intimidade com o comércio. “A maioria não tem experiência nenhuma, porque o programa é direcionado, justamente, para pessoas muito embrionárias em seus empreendimentos, com maior vulnerabilidade social”, explica.
“A incubadora oferece a oportunidade de profissionalizar o trabalho, desenvolver o empreendedorismo, ajudando a pessoa a crescer e seguir sozinha na gestão do empreendimento”, diz o secretário de Desenvolvimento e Geração de Emprego, Evandro Banzato.
A Incubadora de Economia Solidária conta hoje com 23 empreendedores assistidos.