Investigação autorizada por decisão judicial revela que funcionários de uma das maiores viações de ônibus do País fizeram perfis e postagens falsas em redes sociais para difamar concorrente
*Conteúdo atualizado em 09 de março de 2022, às 14h40.
Uma das maiores empresas de ônibus do Brasil foi identificada, após investigação autorizada por decisão judicial, como origem de uma postagem criminosa para disseminar uma notícia falsa contra a Buser nas redes sociais.
Após ingressar na Justiça, a Buser conseguiu identificar a origem da fake news disparada em 2019 para manchar a imagem da startup, hoje a maior empresa de intermediação de viagens rodoviárias do País.
A Justiça determinou ao Facebook que apresentasse os e-mails responsáveis pelo perfil que fez a montagem e os endereços de IP (Internet Protocol) dos equipamentos de onde partiram os acessos. Às empresas de telefonia, a Justiça determinou que fossem listados os proprietários dos equipamentos.
Os documentos comprovam que os acessos aos perfis foram feitos de dentro da sede da Expresso Guanabara ou por celulares ou diretamente das residências de pessoas com ligação com a empresa.
Uma das maiores viações do Brasil, a Guanabara pertence à família Barata, que controla o transporte de passageiros em muitos estados. O empresário Jacob Barata Filho, chamado de “Rei do Ônibus”, foi investigado pela Lava Jato do Rio de Janeiro por ter participado de um esquema de corrupção no governo de Sérgio Cabral Filho. Condenado a 28 anos e 8 meses de prisão pelo juiz Marcelo Bretas, Barata chegou a ser preso pela Polícia Federal em 2017, na Operação Ponto Final. A prisão ocorreu quando Jacozinho, como é conhecido, tentava viajar para Lisboa, o que indicaria uma provável fuga do País.
A montagem com a foto de um ônibus da Buser pegando fogo foi publicada nas redes sociais com a legenda: “Informamos que nosso veículo incendiou-se (sic) ontem, 12 de fevereiro, na Bahia. Foram registrados apenas prejuízos materiais. Daremos todo suporte aos passageiros prejudicados. Atenciosamente, Equipe Buser”.
Como se tratava de uma mentira, a Buser ingressou com uma ação na Justiça, que determinou a retirada da postagem da internet. A 8ª Vara Cível de São Paulo também requisitou a identificação dos responsáveis pelo crime.
Informações das operadoras identificaram que os dados correspondem à empresa Expresso Guanabara S/A, CNPJ 31.4550.112/0001-01, localizada na Rodovia BR-116, nº 700, Aerolândia, Fortaleza – Ceará. Também foram identificados os e-mails cadastrados no sistema identificados sob o nomes “guanabaraholding” e “expressoguanabara”. Outro documento aponta que um dos proprietários do telefone celular de onde partiram acessos está cadastrado em nome de Rodrigo Mont’Alverne, gerente de marketing da Expresso Guanabara.
A Buser já decidiu que vai processar civil e criminalmente todos os responsáveis pela divulgação da fake news.
Grupo Guanabara se defende
Após a publicação da matéria acima, o Grupo Guanabara procurou a redação deste portal ontem (8) para se posicionar. Sobre a ação judicial sobre a suposta criação e divulgação das notícias falsas por funcionários da empresa, a companhia afirma não ter condições de se manifestar porque não teve acesso “ao teor” da ação.
Contudo, a nota enviada à nossa equipe ressalta o histórico de derrotas da Buser na Justiça brasileira e destaca que a startup foi proibida de operar no Ceará por transporte ilegal e irregular.
Por fim, a companhia frisa que “está à disposição para esclarecer o assunto” e reforça o “compromisso com governança, transparência e com o transporte de qualidade”.
Confira o posionamento, na íntegra, do Grupo Guanabara:
“O Grupo Guanabara não teve acesso ao teor da ação judicial e, por isso, não tem condições de se manifestar a respeito.
Chama a atenção, entretanto, que a ação seja proposta pela Buser logo após a empresa ter sido proibida de operar justamente no Ceará por decisão da 7ª Vara da Fazenda Pública (SEJUD 1º Grau) por transporte ilegal e irregular.
Esta não é uma decisão isolada. A Buser tem enfrentado sucessivas derrotas na Justiça em todo o país. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por exemplo, já determinou à ANTT a adoção de medidas eficazes para evitar a ilegal e enganosa operação da empresa. A 2ª Vara Federal do Distrito Federal quintuplicou a multa por dia contra a Buser por descumprimento de uma decisão proibindo a empresa realizar viagens e oferecer passagens em circuito aberto de partidas e chegadas do DF. O descumprimento sucessivo de ordens judiciais já levou a Décima Vara Cível de Vitória (ES) a determinar o bloqueio de R$ 45,3 milhões da empresa.
O Grupo Guanabara reforça o seu compromisso com governança, transparência e com o transporte de qualidade, dentro dos maiores padrões de segurança e da Legislação Brasileira e se coloca à disposição para apurar o assunto entre os mais de dois mil funcionários da empresa no Ceará”.