Por Tatyane Luncah*
Mais uma vez cruzei o oceano. Sim, empreender oferece essa deliciosa liberdade geográfica. Desembarquei no maior evento de inovação do mundo, o Web Summit em Lisboa, Portugal, e nesses dias em terras lusitanas, tive o prazer de palestrar na Universidade de Portugal, falando exatamente sobre a nova era da economia feminina, tema esse que sempre trago nas palestras e que venho falando há algum tempo. Pude celebrar por lá também, a semana do empreendedorismo feminino, data lembrada pela ONU, e que agora passou a ser oficial também no Brasil.
Sempre digo que o protagonismo feminino precisa ser o cerne da discussão, do agora e do futuro, ser pauta nas rodas de conversas, workshops, palestras, congressos. Afinal, a mulher sempre ocupou o papel de subordinada, sofreu com discriminação e opressão. Hoje, mesmo tendo um grande papel, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento da sociedade, ainda ganha menos que os homens em altos cargos de liderança. Por questões históricas, homens e mulheres executam a vida financeira de maneiras diferentes.
Eu acredito que a educação começa pelo conhecimento, a economia do cuidado é algo milenar, mas nunca foi dada a devida importância. Conhecimento é poder, liberta, acredite. A economia do cuidado sempre existiu, entretanto, a mulher não tinha responsabilidades de trabalho externo e não tinha trabalho dobrado. Ela tinha a economia do cuidado, mas não era algo que se tinha atenção. O que tinha foco era cuidar dos pais, marido, filhos, casa, e agora como trabalhadora, ela acumulou tarefas e indo para o mercado de trabalho, não tem com quem dividir esse peso.
Segundo uma pesquisa do SEBRAE, a mulher tem 18% de tempo que o homem devido a esse excesso de trabalho e funções. Se a dupla jornada da mulher fosse contabilizada no “mundo dos negócios”, daria cerca de 10 milhões de dólares. Nós, mulheres, temos que ser produtivas, pois temos muitas responsabilidades no nosso dia e não podemos falhar. Não somos robôs, somos mulheres e seres humanos.
Eu acredito que todos devemos reconhecer a economia do cuidado, e que o empreendedorismo feminino que é diferente por essa economia. É um trabalho bem profundo que vem desde políticas públicas. Creches, escolas com horários flexíveis, lazer que ela consiga dividir esse tempo com maior facilidade. Somente 35% das crianças de 0 a 6 anos tem acesso a essas creches, o poder público deve e precisa investir cada vez mais em construções de creches e escolas, e áreas de lazer, parques, praças, quadras.
Autonomia e incentivo na nova economia
Empresas que são lideradas por mulheres no Vale do Silício, por exemplo, têm receita de 12% maior do que as lideradas por homens. Uma economia que estabelece um novo conjunto de valores e poder com base em princípios femininos por meio da: cooperação, co-criação, colaboração, interdependência, interação, inovação, integridade, conexão com a natureza, crescimento cíclico, cuidado e empatia, em outras palavras tratando os negócios com o design é possível encontrarmos uma maneira de sair da disfunção onde estamos agora e ir para algo novo.
O mundo que vivemos hoje, foi criado pela perspectiva masculina. Nós mulheres, não estamos totalmente presentes em espaços de tomadas de decisões, ainda há muito o que mudar. Sabemos que ainda há um longo caminho pela frente, sonhar com um novo modelo econômico pode parecer impossível, mas é algo que pode ser feito aos poucos. Que as mulheres tenham acesso a educação econômica e financeira, se tornando livres e independentes. Por isso que foco todos os dias no empreendedorismo feminino, uma nova maneira de gerir os nossos negócios por meio dessa essência matriarcal, com foco no colaborativo e nos resultados.
Precisamos de temperança em todas as áreas da nossa vida, e que sim, mulheres são boas nas áreas que elas escolherem. Como falar que uma mãe, que vive na comunidade, com um salário-mínimo, alimenta mais de quatro crianças não é boa em finanças? Uma mãe que faz um filho estudar com os recursos que têm e se transforma em uma pessoa de grande caráter não sabe de gestão? São infinitos os exemplos que temos de uma boa cultura matriarcal nas nossas vidas, e como podemos viver melhor essa nova era que sim, no sentido anima da palavra é feminino.
A nova economia feminina é composta por consciência da abundância, desenvoltura, atenção plena, gratidão, integridade, honestidade, conexão com a natureza, empatia, cuidado, fazer perguntas, sustentabilidade, intimidade, modalidade, generosidade, facilidade, colaboração, interdependência, crescimento cíclico, disrupção e muito mais que estamos vivenciando com essa abundância de informações e exponencialidade do digital. Vozes femininas indicam caminhos para espaços mais equânimes.
O futuro é feminino!
*Tatyane Luncah é CEO e fundadora da EBEM – Escola Brasileira de Empreendedorismo. Educadora em empreendedorismo, é mentora de empresárias, embaixadores de dezenas de grupos femininos.