O volume de vendas caiu 0,1% entre os meses de novembro e dezembro na série de dados dessazonalizados
De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, o volume de vendas no varejo restrito encerrou o ano de 2021 em alta de 1,4%. É importante lembrar, porém, que foi verificada uma desaceleração do crescimento na variação acumulada em 12 meses, que em julho marcava 5,9%. Desde então, foram observadas quedas na comparação interanual, e no mês de dezembro não foi diferente. Na comparação com o mês de dezembro de 2020, o volume de vendas foi 2,9% menor. Já na comparação dos dados dessazonalizados, entre os meses de novembro e dezembro, as vendas caíram 0,1%. O resultado foi melhor que a mediana das projeções do mercado, que apontava para uma queda de 0,6%.
Dentre os destaques do mês, enquanto as vendas no segmento de “Super e hipermercados” caíram 0,5%, as vendas de “Móveis e eletrodomésticos” e “Tecidos, vestuário e calçados” subiram 0,4% cada. No ano, os segmentos de “Super e hipermercados” e “Móveis e eletrodomésticos” andaram na contramão do varejo como um todo, tendo registrado queda de 2,4% e 7,0%, respectivamente. Ambos sentiram o peso da inflação no orçamento dos consumidores, a inflação de alimentos foi de 7,93% segundo o IBGE em 2021 e, com menos renda disponível, os consumidores deixaram de lado itens de valor mais alto.
Já o segmento de “Tecidos, vestuário e calçados” puxou o resultado para cima ao encerrar o ano com crescimento de 13,8%. Tal segmento havia sofrido muito em 2020 devido às medidas de isolamento social (queda de 22,5%) e, naturalmente, uma elevação era esperada em 2021. Vale ressaltar que o e-commerce não contribuiu tanto para este segmento durante o período mais crítico da pandemia, ao contrário do que se viu no segmento de “Móveis e eletrodomésticos”, que subiu 10,6% em 2020. Por fim, o segmento de “Combustíveis e lubrificantes” subiu 0,3% no ano passado, mas também sofreu no último trimestre devido ao forte aumento nos preços.
Na avaliação dos economistas da Boa Vista, a queda no mês e a desaceleração do crescimento nas vendas varejistas reflete um cenário ainda adverso ao consumidor. O indicador antecedente de Movimento do Comércio da Boa Vista já apontava nessa direção, tendo registrado queda de 0,4% na comparação mensal e de 4,8% na comparação interanual. Mais do que isso, os últimos resultados são um presságio daquilo que se pode esperar dos primeiros dados que estão por vir referentes à 2022.
Inflação e juros altos devem acompanhar os consumidores ao longo deste ano e ditar, ao menos parcialmente, o rumo do varejo. Por outro lado, a melhora nos números do mercado de trabalho não pode ser descartada, a taxa de desemprego vem caindo com base nos dados disponíveis até o momento e o número de pessoas empregadas já é, inclusive, maior do que o nível observado antes da pandemia. Essa melhora pode não ter sido suficiente até aqui para convencer o mercado a apostar num crescimento um pouco maior, mas certamente ameniza um cenário de renda em queda.
Outro ponto importante refere-se à pandemia, que logo em janeiro de 2022 mostrou que ainda pode ter efeitos sobre a economia. O aumento no número de casos de covid-19 gerou algum receio em função do pouco conhecimento que se tinha a respeito da nova variante e o surto de gripe também não ajudou. O impacto disso tudo parece ter sido limitado, contudo, algumas projeções já indicam vendas fracas no período.